sábado, 10 de julho de 2010

Poema infanticida VII - Cicloprofanação

Quem me incomoda a esta hora?
Revolve-me a terra por cima
Ouço o bater de uma pá

As dores do movimento do céu
Começam a se rarefazer
Sou transportado de volta ao túmulo
Sinto o cheiro de rosas ressequidas
E um entorpededor formol

Que perdição!
O desassossego é do homem
E não há saída
Morrer ou viver
Aprendi a não querer nenhum
Me desenterrarão...

Acharam minha urna
Retiraram-me pela cabeça
Cortam a ferida em meu abdômen
Lavam o caixão que me envolve
Estão com os narizes cobertos
Mas riem...

Um infeliz me espalma as nádegas
Choro! (e que horror!) vivo!
Não pela dor, mas vai começar
De novo
...
Lá está ela, sorri e chora...
Sou obrigado a sugar seu peito
Me apaixono já!
O resto todos já sabem
Isto é morrer de novo
...
Aprender a não dizer.

Poema infanticida III - Ícaro

Não me deixe cair
Em mim
Não me deixe
Em mim
Me deixe
A tua mão é ave
E pousa em mim
Tua mão é pouso
Do meu voo e eu teu
Voo
E vou aonde pousa tua mão

De mão em não vou
Caindo aonde você deixa
Em mim
Pousa teu lábio em meu
Voo-beijo
Voamos
Voo-amamos

Quando quero paz
(que passarinho também quer)
pouso - pausa!
Mas é quando a tua mão
Me a(m)para paripassu
Não me deixa cair
Em meu pouso(,)(-)voo
Em mim e você não me deixa
E há tanto por voar que no pouso
voamos.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

eu doente do mundo doente

Agora é sério!
Temos sorte incrível de não merecer este mundo, esse mundo.
Há um mundo doente em nós, doentes do mundo. Conhecemos teorias, relações, e há ciúmes na nossa vontade de haver planetas mais inteligentes que nós. Ali, na contrapartida galáctica, também nos vemos tristes, sonâmbulos e macambúzios de uma torta agonia de não haver círculos.
Aí precipitamos por dores tão côncavas até lembrarmos o jogo fictício e nos perdoar. Isso vai curando nossa desnecessidade de existência, nossa carência de vazios e o abandono que é pura noção da solidão, o único algo que nos incita ao engodo que é a existência.
Vejo nítido o caos, perambulando por sua própria demanda criadora. É um demiurgo rebelde que debalde engendra instâncias de haver. Quando incita a clareza em seu seio e empreende o desequilíbrio, aí sentimos estados instáveis: os homens se odeiam e odeiam homens que se amam; a terra reclama das desarmonias e vibra gerando tufões, terremotos, tsunamis, cataclismas; animais em simulação de cios arvoram civilização, bestificando homens; dogmas constroem cismas, traumas, contorcionismos criativos e criações; artes perfazem valores e à míngua nos imputamos prazeres performáticos de gozo; trotamos malabarismos de procriar e reivindicamos famílias a expor certidões de viver e morrer por causa de porras!
Só sabemos só saber e não sossobramos, é tão claro, meu amigo!
Doentes!
Mas meu compadre, Finado Túlio, que deus o tenho, pois o diabo jaz, já dizia: só o beijo resgata todo o infinito e o caos nos causa descansar em paz.