quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Uma só vez



Uma vez na vida faça um poema para seu amor
Nem que seja a uma amizade no disfarce da flor
A tua língua aprecia gorjeios
O papel aguarda adornos
Os romances precisam preces
E sexos comprazem em corpos.

Uma vez na vida dance e rodopie seu par
Nem que sussurre roucos semitons ao luar
As músicas ensejam os gritos
Os passos entrelaçam os pares
As valsas se roçam em dois
Amassos se amansam das mãos.

Uma vez na vida desenhe a face querida
Nem que pinte os sete tecidos da sina
A tela reclama tuas manchas
As cores contornam carícias
Garatujas refratam desejos
Pinceladas simulam os selos.

Uma vez na vida morra de bem pra seu bem
Nem que não te pareça assim que seja tão bem
O princípio se finda de fins
O infinito em palavras desdiz
Os sons se consomem em voz
A luz olha o risco da cor.

Uma vez na vida viva enfim seu viver
Nem que isso seja querer ser o ser sem viver.