domingo, 25 de outubro de 2015

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Poema infanticida X: MAS ISTO NÃO TEM A VER COM ESSE DIA

Baby, me mostra de novo os sinais
numa música aí, ou num livro
De que os tempos não são mais tão felizes
De que para fazer um filme preciso armas

Baby, dessa vez sem a dose do "soma"
Na lucidez desse dia terno
Sem aquele beijo que alucina
Sem querer me consolar com paz e amor
Me mostra a podridão a que chegamos
Sem que vivêssemos um pouco maduros

Baby, sem aquela canção do Roberto
Sem ter que aprender inglês
E sem o sorvete na lanchonete
Me mostra Carolina na janela
Que "devagar as janelas olham"
E a parte que nos cabe dos homens partidos

Depois, um ao outro, daremos amores
Pra sentir que se nasce quando se cria
Desde o fim para o caos e depois o verbo
Feitos babies, nativivos, mostrando de novo
os sinais.

sábado, 19 de setembro de 2015

DAVIDÁDIVA


Na dúvida, duvido.
Da dívida, divido.
Vem de tudo
Barato
Nada vendi graça
E sobre tudo?
Vi, vi.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

...OU COMA DOS ERROS

E, assim, o humor vai perdendo sua graça.
Ver isso e sorrir, ver isso e só me rir, se veríssimo?
E ir; os tempos são de que só é isso.

Quando gargalhadas impingem multidões à dor
e tantas outras dores fomentam comicidades,
já não é dos lábios e das contrações que vêm.
Tampouco é do absurdo ridículo sem mácula
nem sequer terá vindo do patético nonsense
ou mesmo será do ciclossilogismo.

Da perda(,) da cura(,) ao ressentimento,
das mal trapalhadas do limbo ao destino
das chagas que endossam chacinas iladas
da gosma das bocas dos beijos aos dados
de um dia de ermo do amor da metade tardia
da busca à comédia das mentes de média
dos gostos e gastos do gozo e da glosa

Virá
com cenas de sangue e sandice sem termo
com sons e sinais assinados em série
com medida  à mente em matérias inertes
Consenso de óc(d)io sem causa ou cesura

E um olho protela a crença no claustro
E a sede do riso repousa do medo
Se desse teu fruto(,) em caos não cedesse
Até que te reste, sem rir e chorar. 

terça-feira, 23 de junho de 2015

A PRECE




Parece
Suicídio
Teus olhos
Nos meus,
É feito os
De Ìcaro
Pousados
Nos céus.

Se um dia
Num lapso
Me olhares
De amor,
Talvez eu
Sem ritmo
Reviva
Sem dor.
 
Teci meu
Idílio
Poema
De olhar,
Quem sabe
Galope
Na beira
Do mar.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

AS SETE ESTRELAS DE TÚLIO



Em sua testa brilha história
Brincadeiras de chapéu
Apelidos obscuros
Personagens de papel

Você de pé descalço tece cavalgadas pelo sol
E não percebe a ribanceira intrínseca ante ardente sim
E destempera madrugada; a cada caos se rompe o pó
E te apetecem fadas falsas, flores, freneticamente em fim

Avançaria
acelerado
Se fosse dia
Abestalhado

Mas há dragões e patrões matutinos
Prendas, amigos, pátria, famílias
Pilhas, boletos, padres, sirenes
Indentidades Joões ou Marias

A tua mão projeta as armas, o pé de guerra é santa voz
Os hinos formarão soldados, extraviado o som do céu
 A poesia se ergue tensa e bela adensa a todo algoz
Até que, surpreendentemente, a letra arrisca em seu papel

E a esperança em paraíso é mais que a fantasia imaginada em sua tímida tez e intenção de consumir toda a vida no instante exato em que se harmonizam poemas entricheirados na agonia da paz querendo o ser.

domingo, 19 de abril de 2015

PARA QUEM QUIS LIBERTAR AS ESTRELAS


    Meu amor me pediu provas de si. Não chovia nem era fim de tarde. Também não saíamos do cinema, pupilas dilatadas das canções que ouvíamos lá. Só domingo, travesseiro babado com cheiro de pizza e guaraná. Depois das vibrações do celular, a voz carente dizia sem dizer bom dia, boa tarde: “quero provas!”.
    Isso vinha na coesão do último sonho em que me perseguia um tamanduá gigante e sua língua gigante, adesivando outros insetos distraídos. Tendo conseguido camuflar-me entre espinhos secos do mandacaru putrefato, a fera introduzia com destreza sua língua por entre o labirinto espinhoso e se guiava pelo paladar que atribuía a mim. Sem sucesso, decidiu por bater as patas no chão e quem sabe o terremoto me fizesse bater em retirada. Foi assim que decidi de fato sair e me oferecer à sua fome, mas o chão ainda vibrava, então atendi sua ligação: “alô!” – “Quero provas!”.
    Fiquei sentindo, por um tempo, os rogos latentes de cada fonema. O chão ainda tremia e agora deveria ser do frio incoerente dessa tarde ou dos automóveis no asfalto em busca do fraterno lazer dos intervalos. Mas havia mesmo arrepios a impor que houvesse provas a se dar. Todos os amantes devem temer que, quando por palavras, se requer tais substâncias, há que se consubstanciar a linguagem, mas a prova mais viva que eu tinha era a que agora percorria concreta meu corpo, em meio ao frio, automóveis, celular, tamanduá e sua língua por entre espinhos. Todo amante também desconfia que se arrefece a fé de amor, quando se requisita pela segunda vez a fonte ou a consequência latente de um amor. E por ato contínuo, como a dizer que com mais palavras, e quanto mais palavras, enfraquecido fica a conjuminância de um sentimento. E do tom de ameaça imperioso, passou-se ao rogo: “você poderia me dar provas?”.
    É claro que me foi tentador isso de achar que o sadismo de incentivar a degradação verbal até que meu amor se convencesse de si pelo esvaziamento. Porém, logo compreendi, na confusão do entre-sono, que “na tortura, toda carne se trai” e, de mais a mais, eu é que tremia, agora arrependido da demora da palavra. Um lapso de pensamento me sugeriu argumentar, dizer que esse aparelho móvel não teria tecnologia suficiente para suportar qualquer prova de amor. Mas isso me pareceu também mordaz e patético, assim já nos ensinaram os românticos. E, os amantes sabem, viria depois o soluço, a fática expressão ininteligível: “ahn?”
    Não, não era divertido. Talvez fosse próximo ao gozo de coçar uma ferida. Pensei que meu amor não ignorava que todos, todos mesmo, somos parte do mesmo cosmo; coisa simples. Eu me alimento de carne, de frutas e outros sais. Que por sua vez alimentam-se de outros a quem provavelmente vou ainda alimentar. E não serão as mesmas águas que percorrem por fontes e rios e mares e corpos e estrelas e céus? E, quem sabe, já nos integramos tantas vezes em nossos corpos e em outros, e olha nós dois ali na saliva do tamanduá. Meu amor chorava, pelo menos era assim que me transmitia o telefone: “você não tem, né?”
    “Não...” - isso eu disse de pronto, apesar de incerto – “...estou entendendo...”. Meu amor retrucou, com palavras, muitas, que eu não entendia, mas amava; que na noite anterior também nos amamos, nos declaramos e eu lhe prometi as estrelas. Ora, que tolice, eu pensei. Se hoje amanheceu e hoje não seria se não tivesse amanhecido, haveria estrelas somente no instante - e houve estrelas, muitas, na noite dos amantes. Elas não seriam, certamente, provas, mas vis testemunhas. Talvez, para elas, nós é que testemunhávamos os amores interestelares. Na noite seguinte, oriundas do sono diurno, uma delas brilharia de linguagem cósmica, como se solicitasse, de uma outra, provas.
    Meu amor emudeceu e caiu a ligação. Mas é claro que já estávamos ligados, afora a ligação cósmica. Ligados pela palavra-terremoto e pela randômica e linguística seleção do caos. Eu, meu amor, e quem mais lê ou ouve essas palavras, já entendemos que essa tele-interlocução fora o que tecnologicamente é chamado de “engano”. Mas cabe-me agora interrogar a quem interessar possa ou a quem tenha também interincompreendido, sobre esse meu amor, se existe e se há o meu amor. Quero provas!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

AR DO ÍNTIMO

eSSA CORTINA ENCERRA MAIS QUE VÉUS
o BURACO NEGRO APREENDE UNIVERSOS
sÃO SIMULACROS APENSOS A PRECIPÍCIOS
e CICATRIZES PULSANTES EM CINZAS E ESQUINAS.

dOBRAM-SE SOBRE DORES, BOLORES, POLARES
cÁRCERES DOS NÁUFRAGOS, SARCÓFAGOS FUGAZES
aSPIRAM HORIZONTES EM NOITES E OUTROS MATIZES
eSCOMBROS DE LIMBOS E FUNGOS E ASCETAS.

sE A SONHOS SE ASSOCIAM SEU SELO SEDENTO,
pERFAZEM PERCURSOS DE SENDAS, VEREDAS
aNCORAM EM CORAIS E ARRECIFES, SE RENDEM
aTÉ QUE À QUIMERA ESQUECIDA EM LENÇÓIS...

é NADA, AS CORRENTES QUE INCRUSTAM UM EU
e SOMENTE PRIVADO EM TINTA E VERNIZ
pERCEBO A TÚNICA VIOLETA E VELOZ
QUE NEM GRITO NEM GARRAS NEM MENTE NEM VOZ
QUE NEM RIMA NEM VERSO NEM FALA OU ALGOZ.