Deu a louca no hospício e a
cidade sitiou-se para seus pares conviverem-se. As praças se encheram dos
passos passageiros, a liberdade voava. Nas igrejas, todos foram justos e nos
cemitérios, santos. Nas escolas, havia dúvidas, perguntas respondidas com mais
perguntas, livros reescritos depois lidos e deslidos, repercutiu-se aprender,
só se ensinava nos recreios e feriados.
Prefeitos, vereadores, síndicos e
diretores eram nomes, mas os convivas se serviam, alimentando-se do que se
plantou, se plantavam, dando a terra semente sã, dos seus corpos, quando
carecia. Ninguém se desculpava por ser igual, nem se punia os diferentes; a
diferença engendrou a igualdade, por isso as medidas desluziram.
O meu amor não era mais meu nem
mal; era amor, aliás, nem era, mas agora é. Com os braços abertos chegava e o
peito cheio, partia. Tantas idas e vindas, que a saudade era só saudade. O beijo
era gratuito e trocava substâncias, como também as mãos se massageavam no
cumprimento, desarmavam-se no aperto. Por isso, passou a haver braços nos
abraços, na estranha metamorfose de corpos juntos, sendo um, porém, quando se
separavam depois, estavam maiores.
Ao dormir, ninguém mais sonhava.